A PRESENÇA DOS ÍNDIOS TUPIS NO LEBLON
(continuação)

Conhecendo a luta dos Tamoios na chamada "Guerra dos Tamoios" é imposível deixar de se emocionar e sentir que o sentimento nativista, sentimento de brasilidade nasceu nas praias deste nosso Rio de Janeiro, assim que o invasor tentou ocupá-las.

As praias de Cuá-cocaba-ana, Y-apuá-bo, Y-ape-nenha e Y-paum, eram povoadas pelos peles bronzeadas que aqui habitavam. Sim, Cuacocabana, Yapuábo, Ypenhenha e Ypaum, atuais Copacabana, Arpoador, Ipanema e Leblon, já exprimem foneticamente o inexorável vínculo da língua tupi, falada em toda a costa brasileira, com a toponímia das nossas praias. E quando vemos que o vocábulo em tupi exprime com perfeição e total exatidão a geografia destas praias não fica mais nenhuma dúvida quanto a origem de seus nomes. Cuacocabana: "enseada onde se encosta (a canoa) bem", Yapuábo: "local onde a água fica redonda", Ypenhenha: "água que faz um caminho curvo", Ypaum: "ilha ou entre canais de água". Quem conhece as praias nomeadas percebe a correlação perfeita entre a geografia delas e o vocábulo tupi que as descreve. Não é verdade? Copacabana é excelente para encostar canoas e barcos, que o digam os pescadores do Posto 6. Do alto da pedra do Arpoador dá prá ver claramente como ali a água fica arredondada. Olhando Ipanema do alto do final do Leblon vemos também, perfeitamente, como a água descreve um caminho curvo do Arpoador até o Jardim de Alá. E o Leblon é exatamente uma ilha! Basta que observemos fotografias antigas do nosso bairro, cercada por dois canais de águas, que eram muito mais amplos que hoje e pelos quais os índios navegavam tranquilamente como exímios canoeiros que eram.

Canoas compridas, feitas do ôco dos grandes troncos e que levavam até quarenta índios, encostavam naquele vão alargado hoje compreendido entre a Visconde de Albuquerque e a Rua Igarapava, que significa Ygara+paba: "lugar de canoa (ancorar)". No Leblon a presença do tupi na sua toponímia indica ainda que o Morro Dois Irmãos é corruptela de Morro do Imani, ou Imane, que em tupi significa, com exatidão, "um que segue o outro, ou um seguido do outro". A rua Aperana, ou seja Ape+rana, cujo significado é "caminho falso", também aponta com cristalina exatidão o fato dela ser uma rua sem saída. Temos ainda a primeira rua do Leblon e a única que permitia se chegar ao bairro, a Dias Ferreira, que cortava o Leblon do Largo da Memória até a Praça Ataualpa e que se chamava, maravilhosamente, rua do Sapé, corruptela de Essá-pé, significando "caminho iluminado". A Conde Bernardote, era a Travessa do Pau, corruptela de Paum, "intervalo, meio", como já vimos. Até por isso, ou seja, pelo fato da Dias Ferreira dar a impressão de continuar até a Conde Bernardote, também foi ela chamada, por um tempo e erroneamente, de Rua do Pau. Temos ainda a Rua Acarí, que é o peixe Cará pequeno e que dava nome à atual Rua José Linhares. A Juquiá, um tipo de peixe sem escamas. Rua Tubira significa Rua da Poeira e, de fato, por alí as ventanias traziam as areias da Praia do Pinto que a circundava. A Itiquira, no Jardim Pernambuco, é corruptela de Y+tykyra e significa "água vertente, minadágua" e a originalmente Sambayba, planta da família das dileniáceas.


Fontes:

Não posso deixar de citar: Agenor Lopes de Oliveira por seus estudos sôbre a toponímia do Rio. Edson Monteiro com o seu livro "Os Brasis de Uruçumirim". Uma beleza de Prosa Histórica sobre os Nativos Tupinambás e o sempre Brasil Gerson, com sua "História das Ruas do Rio de Janeiro".


Joubert Di Mauro é professor de tupi pela internet.
Para informações escreva para: tupi@painet.com.br

 

 

 

 

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